Por que eu n?o quero uma panela colorida?
Como todos j? sabem eu tenho um caso de amor conturbado que vem desde o fim dos anos 80, sim, sou um pouco passado no quesito idade. O nome dela era Lisa e num primeiro momento achei que ela seria capaz de me fazer feliz, mas eu era apenas um adolescente e n?o tinha dinheiro para t?-la perto de mim. O tempo passou e anos mais tarde, j? formado, acabei me envolvendo com sua irm? mais nova que veio falando suave ao meu ouvido com um discurso que eu queria ouvir e conseguiu, passei alguns meses nesta paix?o. Lisa foi o primeiro PC com mouse criado em 1983 e o Performa foi esta ?irm?? mais nova com quem me envolvi e tive um caso que me custou caro, muito caro. J? devo ter comentado o barulho que esta rela??o conturbada gerou, mas o Performa 6320 n?o correspondia com o que eu esperava de um computador da Apple. A ma?a, na ?poca, j? era o computador de todos os setores das ag?ncias de publicidade que eu visitava e eu, um rec?m formado, se n?o podia atuar numa ag?ncia de S?o Paulo, queria ao menos ter uma m?quina parecida com a deles. Comprei o bendito performa 6320 numa ?poca Stevejobsless. Talvez a falta do g?nio tenha explicado a grande besteira que foi esta s?rie de computadores.
Eu sei que hoje em dia n?o se pode falar abertamente sobre alguns temas. Se antes os assuntos ?intoc?veis? eram mulher, futebol e religi?o, tecnologia acaba de entrar neste pacote e quando ? citada, cria um campo magn?tico que coloca em lados opostos os amantes de uma marca e aqueles que a odeiam. Discursos inflamados s?o proferidos de ambos os lados e a conversa n?o chega a uma conclus?o, ou se chega, ela ? ef?mera, pois semanas mais tarde a concorr?ncia lan?a sua mais nova vers?o ?MegaPlus-C? que desbanca o lan?amento anterior que, sinto em lhe informar, mas j? faz parte do passado. ? neste ?fazer parte do passado? que eu gostaria de concentrar um pouco minhas tecladas.
Em dezembro de 2012, mais especificamente no dia 20, recebi a liga??o de um amigo meu, gerente de uma loja da Oi aqui em S?o Carlos, dizendo que um iPhone 5 estava reservado para mim. Bingo. Na hora eu corri e fui ao encontro do meu t?o esperado iPhone. No meu bolso ainda reinava a vers?o 4 do dispositivo, mas seus dias estavam contados. PPP. Peguei, paguei e ?paixonei?. O bicho ? 20% mais leve,? muito mais r?pido, sua c?mera ? feita de cristal de safira (n?o sei pra que serve), mas faz parte de um conjunto de pe?as que me oferece uma c?mera + filmadora muito boas.
O tempo passou e eu n?o me separo desde aquele dia da caixinha preta touch, at? que esta rela??o foi abalada na semana passada. Na ?ltima ter?a, dia 10/09, tudo o que eu tinha ficou sem gra?a. Meu iPhone 5 foi ?descontinuado?, ali?s, se existe uma palavra que me irrita profundamente ? quando dizem que algo que ? meu foi descontinuado, deixou de existir. #raivadoindiv?duoquefalaisso. A Apple lan?ou os t?o aguardados iPhone5s, um avi?o, uma m?quina de 64bits, processador A7, sensor biom?trico que dispensa o uso de senhas em algumas a??es mas que pode se tornar algo muito usado em outros apps, mas o fato ? que naquela noite, quando fui me deitar, olhei para o meu aparelho e disse: ?? meu amigo, voc? j? era?.
Tudo bem que exagerei nessa frase, mas tenho reparado na velocidade com que os dispositivos eletr?nicos envelhecem hoje, e vi que isso tem nome, ? a obsolesc?ncia programada. Os produtos t?m data de validade tal qual os danoninhos. Esta pr?tica ? feita com muita vontade pela Apple e por sua fiel seguidora Samsung quando lan?am um novo modelo que supera o anterior. H? alguns produtos que chegam ? senitude em 3 anos e seu fabricante deixa de dar suporte/atualiza??o, tornando-os obsoletos. Embora meu iPhone5 ainda se mantenha vivo pelos pr?ximos anos, a crise gerada em mim foi a de outra obsolesc?ncia, a obsolesc?ncia percebida. Embora eu saiba que tudo o que eu fazia no dia 9 de setembro ainda poderia ser feito no dia 10, a percep??o que tenho ? que meu iPhone j? estava na porta de entrada do asilo.
Eu n?o escrevo este texto para dar dicas do tipo: ?Como encarar seu iphone velho e dizer que ser? sempre fiel a ele?, ou ?Eu casei com meu iPhone5?, mas s? pra tornar p?blica esta nossa ?necessidade? de sempre estar com o ?ltimo modelo das coisas.
Quando paro para pensar nisso, tento fazer uma an?lise de tudo o que eu uso no smartphone e o que deixarei de usar por causa deste novo lan?amento e, em 99,9% das vezes a resposta ?: nada. Tudo o que eu j? fa?o continuarei a fazer. Meus posts, o gerenciamento das p?ginas dos meus clientes, acesso ao twitter, monitoramento via Livebuzz, filmes feitos com o Vine, fotos tiradas pelo Instagram com filtro, embora eu n?o assuma que os utilize.
Esta semana eu estava fazendo meu percurso di?rio a partir daqui de S?o Carlos e reparei um painel rodovi?rio que mostrava a cole??o de panelas de press?o Eterna da Nigro, que por sinal ? feita em Arararaquara, meu destino final , e vi uma certa semelhan?a com o lan?amento da Apple, o Iphone5c, todo colorido. As panelas tamb?m v?m em diversas cores, mas porque ser? que eu n?o tenho vontade de trocar minha panela e comprar uma outra nova? Ser? que ? porque elas n?o t?m 4G?
Fica aqui minha catarse tecnol?gica neste desabafo. Que isso sirva pra gente lutar contra este sistema que nos imp?e um ritmo alucinante de descarte de nossos equipamentos ainda novos e em pleno funcionamento.
Ps. S? aproveitando a oportunidade, se voc? souber de algu?m que est? indo para os EUA nos pr?ximos dias, me d? um toque que eu preciso de um favorzinho.
Samuel Gatti Robles
Um comentário
? isso ae Samuca!
Muita gente acha que n?s, publicit?rios, n?o podemos refletir sobre o consumo desenfreado…que o nosso papel ? SOMENTE estimular o consumo exacerbado.
Belo texto!
Estou de acordo!